Desde os tempos do apóstolo Paulo, resolver problemas que surgem nas igrejas é uma das árduas funções do missionário. No relato a seguir, Pr. Sandro Paixão, missionário Herói da Fé em Moçambique, África, fala sobre uma de suas viagens ao interior do país em que ele exerce especificamente essa função. Confira:

Paz do Senhor Jesus!

Queremos aqui relatar nossa viagem até a aldeia de Sabandari, onde estivemos por dois dias trabalhando para nosso Senhor Jesus.

A viagem

No dia 02 de outubro de 2020, saímos em viagem para a localidade de Sabandari, Distrito de Doa, Moçambique. Percorremos a distância de 217 km em mais de 5 horas de viagem, o que resultou no gasto de mais de um tanque de combustível.

O motivo da viagem             

A igreja de Sabandari é uma das mais antigas ligadas ao Ministério. Seu pastor era nosso saudoso Pr. Estefânio, falecido em abril deste ano devido a um câncer no estômago.

Sentindo sua partida, ele reuniu a igreja e renomeou irmãos para diversos cargos, dentre estes, o seu substituto após sua morte.

Com seu falecimento, as orientações por ele dadas foram cumpridas e no seu lugar, então, ocupou o cargo de dirigente da congregação o Ev. Paulo. Porém, antes de tudo isso acontecer, havia um pastor nesta igreja cuja vida estava em desacordo com a doutrina bíblica: ele tinha mais do que uma esposa, contrariando, assim, I Tm 3.2.  Esse pastor foi, então, afastado de suas atividades para que seu caso fosse tratado e ele decidiu abandonar a igreja.

Porém, com o falecimento do Pr. Estefâneo, esse obreiro quis assumir a igreja, chamando alguns membros e obreiros para uma reunião na qual afirmava que o evangelista que ficara na frente dos trabalhos era muito novo e inexperiente. Alguns irmãos não aceitaram sua investida e nos comunicaram sobre o ocorrido, enquanto outros, como um diácono local, ficou ao seu lado e começou a tumultuar a igreja, levantando-se na hora da ministração e não deixando que o culto tivesse continuidade, chegando, até mesmo, a dispersar a igreja, a ponto de o atual encarregado ter que sair atrás dos membros, para voltarem para dentro da igreja e continuarem o culto.

Com essa situação agravando-se, restava irmos até lá para tentarmos resolver a questão. Então, na data marcada, partimos.

Reunião             

Já no dia 2, sexta feira, após chegarmos na aldeia, convocamos toda a liderança da igreja para uma reunião a fim de ficarmos a par de todos os assuntos e, assim, tratarmos com mais clareza de cada ponto em questão.

A falta de instrução, a má formação e o baixo nível de conhecimento das Escrituras faziam parte gritante de toda confusão no meio deles. Não havia respeito pelas autoridades constituídas, cada um queria se impor dentro da sua própria visão de pensamento, ocorrendo assim facções e dissensões, obras puramente da carne, como exposto em Gálatas 5.20.

Após ouvir cada um, pois demos a oportunidade para todos falarem, começamos a explanar, pela palavra de Deus, como a igreja deve funcionar, dentro do padrão da cadeia de autoridade delegada. Todos ouviram com atenção e, no final, reconheceram os seus erros e aceitaram a liderança do Ev. Paulo sobre suas vidas.

Depois da reunião, conversei com o evangelista e lhe passei instruções de como se portar como um obreiro. Falei-lhe da postura que deveria ter, mostrando-lhe que todos ali iriam ver nele um espelho, um exemplo a ser seguido, e aconselhei-o a implantar um núcleo de oração na semana e, nos sábados, jejum com estudos bíblicos – ainda que inicialmente até o meio-dia, pela falta de costume, e fosse aumentando gradativamente até o fim da tarde.

Culto             

À noite, tivemos um culto com lâmpadas de led alimentadas por uma bateria de moto. Era insuficiente, porém, sem outra opção, era o que calhava para o momento. Na ministração, pedi ao Pr. Paulo Toalha, dirigente da igreja em Chuare, que trouxesse a Palavra, o que prontamente aceitou, ministrando com muito entusiasmo e vigor espiritual.

Banho e cama!             

Após o culto, voltamos para a aldeia já quase meia-noite, onde um balde com água de um poço ali perto nos esperava para o banho na “casa de banho” – um quadrado feito de bambus e palhas, de aproximadamente um metro e sessenta de altura – conclusão essa tirada pela minha altura (1,74m) – o que fazia com que minha cabeça ficasse exposta. No chão, um punhado de pedras formava um desalinhado piso onde ficávamos para nos banharmos. Eu e minha esposa tivemos que nos ajudar, revezando: enquanto um tomava banho, o outro segurava o celular para iluminar e largava água de caneca para enxaguar o outro. Um banho inesquecível!

Depois do banho, fomos dormir. Baixamos o banco traseiro do carro, estendemos uma manta, colocamos dois travesseiros, baixamos os vidros do carro (nesta noite, não tinha mosquitos por conta do vento que soprava) e ali dormimos um sono de descanso de um dia cheio, que começara às 5 da manhã e terminava mais de meia-noite.

Sábado com jejum e estudo bíblico           

Acordamos às 6h da manhã e, depois da higiene e desmonte da cama, ficamos esperando chegar 8 horas para irmos à igreja e ministrarmos um estudo bíblico.

A ministração foi dividida em em três tópicos: “O que era o Reino de Deus”, “A Vontade de Deus” e “Cadeia de Autoridade”.

Após o estudo, demos mais algumas instruções ao dirigente e voltamos à aldeia, onde já estava preparada uma gostosa “chima com cafrial” (galinha caipira). Comemos e nos despedimos dos irmãos retornando à cidade de Tete com a satisfação do dever cumprido.

Acompanharam-nos nesta viagem: minha esposa, Missionária Rita Paixão; Pr. Paulo Toalha, de Chuare, e o secretário da Igreja, irmão Gimo.

Deus está se movendo em Moçambique, na África. Neste post, Pr. Sandro Paixão, missionário enviado do Brasil com apoio da AME Heróis da Fé, envia notícias maravilhosas da obra de Deus naquela nação:

Paz do Senhor a todos os irmãos!

Queremos relatar alguns fatos da obra missionária aqui em Moçambique por esses dias.

Primeiramente, quero agradecer a Deus, pois, em meio ao período de afastamento social que tivemos, quando não podíamos realizar cultos nas igrejas, nos reuníamos em minha casa com alguns irmãos e aqui cultuávamos ao Senhor Jesus!

Agora, já retomamos as atividades, embora ainda com algumas restrições, como uso de máscaras, lavagem das mãos e distanciamento médio de um metro entre cada cadeira. Mas o importante é que o pior nós já vencemos, em nome de Jesus!

Zobue

No dia 23 de agosto, estivemos na igreja de Zobue, localidade fronteiriça com Malawi. Lá fomos para fortalecer os irmãos e levar uma oferta de R$ 230,00 para a compra de esteiras, para que eles possam levantar uma igreja de 10m x 6m, feita de bambu e esteiras também de bambus, as quais são usadas aqui como assento para as mulheres nos cultos. Nossos irmãos de Zobue, na atualidade, estão cultuando a Deus debaixo de árvores, pois não têm nem igreja e nem um terreno próprio. Mas o pastor local, Pr. Paulo, vai ceder parte de seu terreno para levantar a igreja.

O que é muito interessante aqui é que eles se contentam com pouca coisa. Os mais humildes adoram a Deus debaixo de árvores; outros, já conseguem fazer uma igrejinha de bambu, como esse pastor; outros, mais avantajados, fazem seus próprios tijolos e levantam a igreja de barro – mas, quando chegam os tempos de chuvas, a maioria cai – e outros, que são mais afortunados, conseguem fazê-las de cimento cobertas com zinco. Mas, em tudo isso, o importante para eles é adorar a Deus!

Milagre no bairro Matundo, em Tete

No dia 30 de agosto, estivemos na localidade de Matundo, onde temos uma igreja também feita de paus roliços cravados no chão, rodeada e coberta por lonas de outdoor. Essa igreja estava localizada em cima de um terreno que era de outra pessoa, a quem o pastor de lá, Pr. Colar Fanta, pedira emprestado até que pudesse comprar um terreno próprio para a igreja. Porém, o dono já sinalizara que iria construir sua casa e, automaticamente, nossos irmãos teriam que sair de lá. Um terreno naquela zona, custa, em média, 4 mil reais, mas, infelizmente, esse dinheiro era muito para o nível de nossos irmãos.

Porém, no dia 08/09/2020, Deus, por sua imensa graça e amor à Igreja, nos deu uma grande vitória: Ele tocou em um irmão no Brasil e este doou o valor total para a aquisição do terreno no neste bairro aqui em Tete! Assim, conseguimos adquirir um terreno com 18,5 metros de comprimento por 12,4 metros de largura. Na verdade, aqui os terrenos não são vendidos como no Brasil, pois tudo pertence ao governo, que é socialista, mas é feito um documento de compra e venda e depois registra-se formalmente a aquisição nas instituições competentes.

Deus recompense esse irmão pela sua liberalidade com a obra do Senhor aqui em Moçambique!

Em busca de uma igreja no centro de Tete

Por último, mas não menos importante: temos visto um prédio no centro da cidade de Tete, o qual gostaríamos de alugar a fim de termos uma igreja mais centralizada e, assim, alcançarmos mais pessoas para Jesus. Esse prédio, que mede cerca de 10m x 8m, já tinha sido uma igreja, porém, com a pandemia, eles fecharam e não conseguiram mais sustentar-se. A princípio, o valor que estavam pedindo era de 5 mil meticais, equivalente a 400 reais, conforme o câmbio do dia. Orem para que Deus nos conceda essa vitória e possamos estar com nossa igreja no centro ganhando almas para o Senhor JESUS.

A paz do Senhor Jesus aos irmãos da grande família Heróis da Fé!

Já contei que, no dia 17 de dezembro de 2019, pegamos o voo para Moçambique, onde, agora, com o visto permanente, podemos fazer a obra do Senhor com mais tranquilidade.

Na chegada à cidade de Tete, onde é nossa base, ficamos sabendo que o Pr. Stefânio, líder de nossa igreja em Sabandari, estava hospedado na casa de um irmão fazendo um tratamento de saúde na cidade, já que no interior os médicos são uma “mistura de curandeiros com feiticeiros”. Logo fomos visitá-lo, pois sua situação era mesmo ruim: ele estava com câncer no esôfago. Oramos por ele e cremos que Deus, em suas muitas misericórdias, poderia estender a sua mão de poder ao nosso companheiro.

No dia 25 de dezembro, o Pr. Stefânio pediu que nós o levássemos para sua casa, em Sabandari, para que pudesse morrer junto à sua família, já que sua situação estava agravada demais. Já fazia quatro dias que ele não comia comida sólida e até a água, quando bebia, ía até certo ponto e voltava. Então, cumprimos com o desejo do coração de nosso irmão e o levamo embora. No caminho, nosso carro ficou sem as marchas. Por ser automático e por estarmos no meio da selva, não havia ninguém que pudesse arrumar. O jeito foi arrumar alguém para levá-lo dali onde estávamos, e eu e o Pr. Elias pousamos no carro até pela manhã, quando achamos alguém para nos rebocar até a estrada principal e, de lá, um irmão nos rebocaria até a cidade. Isso dava mais de 170 km, sendo que 53 km era de estrada de chão.

Em janeiro e parte de fevereiro, nossas atividades se concentraram na nossa Sede em Tete, pois as chuvas eram muito torrenciais e impossibilitaram nossas viagens. Mas, mesmo assim, pudemos ir até a localidade de Matundo, no bairro Celeste, onde temos uma de nossas igrejas, pastoreada pelo nosso irmão Pr. Colar Fanta.

Já no início do mês de março, tivemos a conclusão do Curso Vida Cristã I e também a grata satisfação de entregar os certificados aos irmãos que o concluíram com empenho.

No dia 08 de março, estivemos na localidade de Madamba, no Distrito de Moatize. Lá tivemos mais uma vez a experiência de ver crianças com idade entre cinco e dez anos que nunca tinham visto uma pessoa branca (“azungo”, como eles dizem na língua Nhungue). Foi um culto abençoado, em que Deus estava confirmando sua obra.

No dia 15 de março, fomos em Nchuare, outra localidade de Moatize, distante 150km da cidade de Tete. Lá, fomos recolher as assinaturas dos nomes dos membros para que pudéssemos dar continuidade no processo de registro de nossa igreja e também tratar sobre o culto de páscoa.

Neste sábado, dia 28, tivemos outro curso bíblico, dessa vez diaconal: “Diácono e Diaconisa, os Amigos do Pastor”. Foram 23 participantes, incluindo pastores do interior com quem mensalmente nos reunimos em jejum e oração, para estudarmos a Palavra de Deus e ouvirmos suas dúvidas doutrinárias.

Ainda neste mês de março, aplicamos um curso básico de preparação de mensagens para os jovens da igreja. Como a obra é grande e eu sou sozinho, estou me empenhando em formar obreiros entre os jovens para poderem me ajudar. Depois deste curso, comecei a enviá-los nas igrejas mais próximas nos domingos para tirarem escala e, nas quartas-feiras, eles repetem o que pregaram na sede para avaliação. Tem sido uma experiência e tanto para eles, e um alívio para mim, pois posso estar, por meio deles, atendendo duas frentes de trabalho a cada domingo.

Para encerrar esse relatório, quero dizer que o Pr. Stefânio, que estava com câncer no esôfago e, como relatei, foi levado para morrer em casa, está bem: já está caminhando e se alimentando de alimentos sólidos, para a glória de Jesus. Creio que isso é um milagre, resultado das orações constantes que a igreja tem feito em favor do servo do Senhor!

Essas são algumas coisas que estão acontecendo aqui em Moçambique.

Orem por nós, pela nossa saúde, por nossas finanças, pois aqui os preços dos alimentos básicos são às vezes até quatro vezes mais caros que no Brasil. Um exemplo disso é o café, que custa em média R$ 70,00 o quilo, e o feijão, que está na faixa de R$ 17,00/Kg.

Hoje, dia 01 de abril, o governo de Moçambique anunciou “Estado de Emergência” para prevenção do coronavírus. Embora oficialmente tenha apenas 10 casos confirmados em todo o país, é certo que esse número deve ser maior, pois muitas pessoas não têm como fazer o teste e nem o governo tem condições dentro do sistema de saúde de fazer muitos testes.

Hoje tínhamos culto de ensino na igreja, porém resolvi fazer uma reunião para decidirmos o curso das coisas, já que, entre as restrições do governo, está a proibição de cultos e qualquer tipo de reuniões públicas ou privadas. Mas, como muitos faltaram, vamos nos reunir em outra oportunidade e decidir o que fazer.

No Brasil, torna-se fácil fazer cultos online, mas, aqui, são poucas pessoas que têm condições de terem uma internet para assistir as lives. Mas estamos montando uma estratégia para podermos atender a igreja enquanto passamos por essa crise momentânea, já que as restrições são apenas para este mês de abril.

Pedimos que os irmãos continuem a orar e contribuir com esse projeto, pois só assim conseguiremos avançar!

Deus abençoe a todos da Família Heróis da Fé!

Um abraço fraternal de seus conservos em Cristo, Sandro e Rita Paixão